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Notícia da Época Negócios, abril de 2018.*

Maior parte dos grãos vira ração, e não alimento humano
Reduzir ou tirar as carnes do cardápio reduz enormemente a demanda por monoculturas e uso de terras.
A mudança favorece sistemas agrícolas mais saudáveis e sustentáveis

A PECUÁRIA OCUPA 75% DAS TERRAS ARÁVEIS DO PLANETA. EMPREENDEDORES E CIENTISTAS PENSAM EM FORMAS DE SUBSTITUIR CARNE, LEITE E OVOS

A produção de carnes e outros produtos de origem animal requer extensas áreas e o uso maciço de recursos naturais escassos. A pecuária ocupa 75% das terras aráveis do planeta, principalmente para pastagem e produção de ração – embora seja responsável por apenas 12% das calorias consumidas globalmente. No Brasil, milhões de hectares de vegetação nativa, em ecossistemas como a Amazônia e o Cerrado, foram perdidos para a abertura de pastos e para o cultivo de grãos como a soja, usada predominantemente como ração para animais.

Um relatório recente feito pelo Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável (CEBDS) e pela Agência Alemã para a Cooperação Internacional mostrou que a pecuária é o setor da economia brasileira com os maiores custos em termos de perda de capital natural: para cada R$ 1 milhão de receita do setor, R$ 22 milhões são perdidos devido a perda de capital natural e outros danos ambientais. De forma semelhante, estima-se que as operações de abate e processamento de animais custam ao país, em danos ambientais, 371% a mais do que a receita que geram.

A possibilidade de reverter o impacto negativo de uma economia ainda centrada no uso de animais, e ao mesmo tempo atender à demanda de uma população crescente e mais afluente, representa um grande desafio. A boa notícia é que uma revolução na forma de consumir e produzir alimentos já está em curso.

Por um lado, consumidores e governos se conscientizam dos problemas ambientais, éticos, de saúde e econômicos associados a criação de bilhões de animais anualmente, com empresas e investidores cada vez mais conscientes dos riscos da associação direta e indireta a práticas nocivas. Por outro, cientistas e empreendedores no mundo todo estão explorando formas inovadoras de desenvolver substitutos de carnes, leites e ovos. Segundo Eric Schmidt, presidente do Google até 2011, “uma revolução irá ocorrer, na qual as proteínas vegetais irão substituir a carne nas próximas décadas”. De fato, gigantes mundiais do setor já começam a mudar de rumo: recentemente a Tyson Foods, a Maple Leaf Foods e a Unilever fizeram investimentos milionários no mercado de proteínas vegetais e substitutos para carnes.

Uma pesquisa recente da Universidade de Oxford mostra também que a redução no consumo de carnes seria também benéfica à saúde de todos e aos cofres públicos: no Brasil, ela poderia economizar mais de R$ 100 bilhões em gastos com saúde e perda de produtividade no trabalho até 2050, quase metade do investimento necessário para expandir os serviços de saneamento e tratamento de água para os 100 milhões de brasileiros que ainda não o possuem. A mudança para dietas vegetarianas e veganas representaria uma economia ainda maior, associada à redução no número de casos de diabetes e doenças cardiovasculares.

O Brasil corre o risco de perder o bonde da história se demorar para investir nessa mudança – por um lado, estamos comprometendo nosso capital natural, exportando carne e ração barata sem embutir os altos custos ambientais praticados em solo brasileiro; por outro, teremos que importar tecnologia alimentar em um futuro bastante próximo.

A certeza que temos é de que a mudança para uma alimentação "mais vegana" é essencial para enfrentar esses desafios sociais, éticos e ambientais. A pergunta que segue sem resposta, porém, é: de que lado o Brasil vai ficar?

Fonte:* Época Negócios
Por Cynthia Schuck, Alessandra Luglio e Guilherme Carvalho
17/04/2018

https://epocanegocios.globo.com/colunas/noticia/2018/04/maior-parte-dos-graos-vira-racao-e-nao-alimento-humano.html
Acesso em maio de 2019.  

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