A vida marinha poderá
sofrer extinção em massa em poucas décadas se a pesca intensiva, as
mudanças climáticas, a acidificação da água, a poluição e o desenvolvimento
litorâneo não forem combatidos, segundo um relatório apresentado nesta sexta-feira (22)
pela ONU.
O relatório "In Dead Water" ("Em Águas Mortas"), elaborado por uma
equipe de cientistas por incumbência do Programa da ONU para o Meio Ambiente (Pnuma),
cujo 10ª conselho especial termina hoje, em Mônaco, traça um panorama tenebroso.
"Há 65 milhões de anos, quando desapareceram os dinossauros, o mar estava saturado
de dióxido de carbono (CO2). Em poucas décadas, a partir de agora, a água do mar será
ainda mais ácida do que naquela época". A afirmação pessimista é de Ken
Caldeira, da Universidade de Stanford, que, junto com outros cientistas e o
diretor-executivo do Pnuma, Achim Steiner, apresentou o relatório à imprensa.
Steiner resumiu as ameaças que assolam os oceanos: a pesca intensiva e as más práticas
pesqueiras, como o arrasto e a pesca em profundidade, as mudanças climáticas e a
poluição litorânea. Segundo o diretor-executivo do Pnuma, "seria uma
irresponsabilidade culpar uma só delas, mas, em coro, farão com que em 30 ou 40 anos
desapareça a indústria pesqueira e aconteça o colapso biológico dos mares".
O relatório indica que a metade das capturas pesqueiras do mundo acontece em menos de 10%
do oceano. É nesta área que se produz a maior parte da atividade biológica de espécies
consideradas chave na cadeia alimentar. Devido às mudanças climáticas, "com o
aumento de 3 graus na temperatura das águas superficiais, mais de 80% dos corais -
fundamentais na ecologia marinha - podem morrer em décadas, entre 80% e 100% em
2080", segundo o relatório.
A acidificação do mar, devido à dissolução de CO2 provocada pelo uso de combustíveis
fósseis, em poucas décadas danificará também os corais e outras espécies que
metabolizam conchas calcárias. Ainda segundo o relatório, o desenvolvimento litorâneo
"aumenta rapidamente" e há a previsão de que "atinja negativamente 91% de
todas as costas desabitadas até 2050, contribuindo majoritariamente para a poluição do
mar".
As mudanças climáticas afetam negativamente "a circulação termoalina - grandes
correntes - e o fenômeno de fluxo e refluxo de água continental, crucial para 75% das
pescas". Em conjunto, a poluição litorânea e as mudanças climáticas
"acelerarão o desenvolvimento de zonas mortas, muitas delas próximas a plataformas
pesqueiras".
O número de zonas mortas - regiões com hipóxia (falta de oxigênio) - aumentou de 149
em 2003 para 200 em 2006, afirma o relatório apresentado. "A pesca intensiva e o
arrasto de fundo estão degradando o habitat e ameaçando a produtividade e a diversidade
biológica. As áreas danificadas pelos arrastos levarão vários séculos para se
recuperar", advertem os cientistas.
"Já existem projeções que indicam o colapso da indústria pesqueira como resultado
da superexploração, e é muito provável que esse colapso se antecipe, como resultado de
múltiplos fatores que atuam de forma combinada", afirmaram os cientistas em Mônaco.
Os fenômenos prejudiciais aos mares também incluem os efeitos causados pelas mudanças
climáticas na atmosfera, o degelo e o conseqüente aumento do nível do mar, segundo os
oceanógrafos.
JB Online