Cálcio na Dieta Vegana
Dr. George Guimarães, nutricionista especializado em dietas
vegetarianas
www.nutriveg.com.br
A noção de que o leite e derivados são a melhor (se não a única) fonte de cálcio é
tão arraigada na nossa sociedade que a maioria das pessoas tem dificuldade em aceitar a
idéia de que é possível ter ossos saudáveis sem o consumo de laticínios. Mas o fato
é que o cálcio não é exclusividade do produto secretado pelas glândulas mamárias dos
animais mamíferos.
A
noção de que o cálcio é exclusividade do leite da vaca é fruto de um elaborado
trabalho de propaganda por parte das indústrias de laticínios. Apesar de não poderem
afirmar diretamente que o leite de vaca é a única fonte de cálcio (isto seria
propaganda enganosa) a indústria busca passar esta noção ao consumidor. Faz pouco mais
de um ano que a Vegan Society do Reino Unido processou uma multinacional que lançou uma
campanha que trazia a frase: Leite essencial para ossos saudáveis.
Em poucos dias, a campanha foi tirada do ar, pois essencial é aquilo que não pode ser
substituído, o que não é o caso dos laticínios como sendo fonte de cálcio.
Se
uma associação de feirantes pudesse desenvolver uma campanha para promover os alimentos
vegetais como boas fontes de cálcio, o que eles promoveriam? Os vegetais verde-escuros
(brócolis, couve e quiabo) são excelentes fontes de cálcio e estão acompanhados de uma
série de outros nutrientes importantes para o metabolismo do cálcio, como o potássio e
a vitamina K. As frutas secas (figo, damasco, uva-passa) e as castanhas e sementes (nozes,
avelãs, amêndoas, castanha-do-Pará, semente de girassol, gergelim, entre outras) são
fontes bastante concentradas deste mineral e são muito fáceis de serem armazenadas,
transportadas e consumidas. Já as leguminosas (soja, tofu, lentilha, ervilha,
grão-de-bico, feijões), muitas delas tão presentes no cardápio do brasileiro, são
também boas fontes e o melado-de-cana completa a lista oferecendo uma grande
concentração de cálcio. Estas são as principais fontes de cálcio em uma dieta livre
de produtos de origem animal.
Assim
como quando discutimos sobre a existência de boas fontes vegetais de proteína e ferro,
uma vez demonstrada a possibilidade da dieta vegetariana fornecer estes nutrientes em
quantidades adequadas, a questão que segue é sobre a sua qualidade, ou
biodisponibilidade. De fato, há uma diferença com relação à eficiência com que o
organismo humano aproveita o cálcio dos alimentos de origem vegetal quando comparada à
eficiência com que aproveitamos o cálcio de origem animal. Esta diferença é que o
cálcio dos alimentos vegetais é mais bem absorvido. Isto é demonstrado por muitos
estudos científicos: os alimentos de origem vegetal oferecem um cálcio que é mais bem
utilizado pelo organismo do que o cálcio que tem origem no leite e derivados. Isso
significa dizer que, quando a ingestão se dá em quantidade adequada, a qualidade do
cálcio vegetal não deixa nada a desejar ao cálcio de origem animal.
No
que diz respeito à saúde óssea, as vantagens de se obter o cálcio dos alimentos de
origem vegetal não param por aí, pois uma dieta isenta de produtos de origem animal
(inclusive os laticínios) tem muitos outros aspectos que favorecem a saúde dos ossos.
Quando um nutriente tem efeito positivo na retenção do cálcio no organismo, dizemos que
o balanço de cálcio é positivo. O inverso vale para o termo balanço negativo. Os
fatores dietéticos que afetam positivamente o balanço de cálcio são a vitamina K, o
potássio, um pH sangüíneo alcalino e, é claro, o próprio cálcio. Os fatores que
afetam negativamente o balanço de cálcio são o consumo excessivo de sódio, proteínas
e vitamina A.
Uma
dieta vegana é mais rica em vitamina K e potássio, enquanto ela é mais pobre em sódio.
Ela também é mais provavelmente abundante em alimentos alcalinizantes ao mesmo tempo em
que não excede com facilidade a quantidade recomendada de proteínas. Além disso, a
dieta vegana não excede na ingestão de vitamina A. Na verdade, ela é isenta desta
vitamina, fornecendo o beta-caroteno, que é convertido pelo organismo em vitamina A
(retinol) apenas na quantidade necessária, evitando assim o seu excesso. Do ponto de
vista dietético, a eliminação dos produtos de origem animal, concomitante com o aumento
da ingestão de alimentos de origem vegetal, favorece em muito a saúde óssea.
Além
do aspecto alimentar, devemos considerar a vitamina D e a atividade física. A vitamina D
pode ser produzida pelo organismo e tem papel fundamental para o balanço positivo de
cálcio. Ela é sintetizada quando ocorre a exposição adequada da pele à luz solar.
Para pessoas de pele clara, uma exposição de cerca de 20 minutos em uma pequena porção
de pele (mão e rosto, por exemplo) quando o Sol está a um ângulo acima de quarenta
graus do horizonte é o suficiente para estimular a produção de vitamina D em quantidade
adequada. Pessoas de pele escura devem estender este tempo de exposição para até uma
hora. A atividade física também é muito importante para uma boa saúde óssea. Pense
nos seus ossos como se fossem os seus músculos: se você os utilizar pouco, eles se
desenvolverão pouco. Uma dieta vegana está relacionada a alguns aspectos que favorecem a
prática de atividades físicas, como por exemplo um índice de massa corpórea mais
próximo do saudável, e por isso o vegano ganha mais uma vantagem com relação à sua
saúde óssea, já que a dieta como um todo favorece a prática de atividades
físicas.
Vale
notar que quando optamos por ingerir o cálcio a partir de fontes vegetais, estamos
optando por ingerir alimentos que são também boas fontes de ferro, fibras e outros
nutrientes importantíssimos e que não são encontrados nos laticínios. Aqueles que
ainda acreditam que o leite é um produto adequado à alimentação de mamíferos adultos
devem estudar mais a fundo os benefícios resultantes da eliminação deste alimento do
cardápio, inclusive e especialmente no que diz respeito ao cálcio e outros fatores
relacionados à boa saúde óssea.
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