O que eu coloco no lugar da carne?
Dr George
Guimarães, nutricionista especializado em dietas vegetarianas
www.nutriveg.com.br
Essa é uma das principais dúvidas entre os novos vegetarianos. É muito prudente e
importante cuidar do planejamento adequado da dieta vegetariana, mas esta pergunta incorre
em alguns erros. O primeiro deles é a idéia de que o ajuste no cardápio para
adequação a uma dieta vegetariana seria algo tão simples quanto a substituição de um
alimento por outro. O outro erro é o aparente entendimento de que a carne precisa ser substituída.
Os nutrientes habitualmente fornecidos pela carne (proteína,
ferro, vitaminas do complexo B...) devem sum receber o cuidado de estarem contemplados na
dieta vegetariana, mas o equívoco está na falsa premissa de que a carne seria a
principal fonte destes nutrientes, e de que os outros alimentos seriam apenas um
complemento ou uma substituição. Tanto no que diz respeito às proteínas,
quanto no que diz respeito ao ferro e aos outros nutrientes fornecidos pela carne, podemos
encontrar fontes tão boas ou até superiores nos alimentos vegetais.
Outro erro é querer trocar a carne por um outro
único alimento. A pessoa que adota uma dieta vegetariana deve ter clareza de que a sua
dieta deverá passar por mudanças mais amplas para que todas as necessidades nutricionais
do indivíduo sejam supridas. Muitos novos vegetarianos acabam simplesmente aumentando a
ingestão de alimentos derivados de animais, como os ovos e os laticínios, ou passam a
comer de maneira exagerada um determinada alimento, como a soja por exemplo.
Uma ingestão muito aumentada de ovos pode facilmente elevar os
níveis de colesterol sangüíneo. Assim, em vez de aproveitar o potencial da dieta
vegetariana em reduzir as taxas de colesterol, o vegetariano acaba sendo surpreendido por
uma taxa elevada de colesterol.
Outra falha bastante comum é o aumento no consumo de
laticínios, como forma de compensação pela retirada da carne. Os
laticínios, além de terem uma poderosa capacidade alergênica, estão entre os alimentos
mais pobres em ferro que podemos encontrar na natureza. Ao retirar da dieta um alimento
rico em ferro (carne) e incluir no seu lugar um alimento pobre em ferro (leite, queijos,
iogurtes), o risco de desenvolver anemia ferropriva é grande.
Escolher substituir a carne por um único alimento vegetal também incorre em outros
erros, pois assim como os derivados animais, nenhum é idêntico a ela. E nem precisa ser,
pois a dieta vegetariana pode ser muito mais rica e variada do que a dieta que onívora
(que inclui as carnes). O desafio consiste em mudar paradigmas: a carne não é o centro
da dieta, ela é apenas uma opção e, quando ela deixa de ser uma opção, é a totalidade
da grande gama de alimentos vegetais que será capaz de suprir as nossas necessidades
nutricionais.
Como exemplo, a proteína e o ferro podem ser fornecidos pelas
castanhas e sementes (nozes, avelãs, castanha-do-Pará, castanha de caju, amêndoas,
gergelim, semente de girassol) e pelas leguminosas (feijão, lentilha, ervilha,
grão-de-bico, soja e derivados). Se as compararmos à carne, veremos que estes alimentos
vegetais irão suprir as nossas necessidades destes nutrientes, mas com uma carga menor de
gordura total e gordura saturada. Isto permite que haja espaço para a inclusão de outros
alimentos que serão fontes de ainda outros nutrientes e assim a dieta se torna mais rica
e mais completa. Quando a proteína e o ferro são fornecidos pelas castanhas e pelas
leguminosas ao invés da carne, há ainda a vantagem de se estar consumindo mais fibras e
outras substâncias protetoras, ao mesmo tempo em que não conseguimos fornecer a vitamina
B12. Ou seja, ainda que as castanhas e leguminosas supram a nossa necessidade protéica e
de ferro, elas trazem tanto vantagens quanto desvantagens sobre a opção pela
carne.
Se considerarmos a qualidade desta proteína, veremos ainda que a
idéia da substituição, nestes termos, fica ainda mais inviável. Isto não
significa dizer que seja inviável suprir a nossa necessidade protéica com vegetais,
significa apenas que a busca por um substituto vegetal idêntico à carne tem grandes
chances de ser frustrada, pois é raro um alimento vegetal que contenha todos os
aminoácidos essenciais. No entanto, uma combinação de alimentos vegetais garante a
ingestão destes aminoácidos de forma completa e é aqui que encontramos a melhor
ilustração deste paradigma inerente: se são raros os vegetais com um bom perfil de
aminoácidos, como pode um vegetal suprir adequadamente a nossa necessidade destes? Um
único vegetal raramente poderá, mas uma variedade
de vegetais o fará tranqüilamente, reforçando a idéia de que a adequação da dieta
não está em um substituto à carne, mas na reforma global das escolhas
alimentares.
Os maiores benefícios da dieta vegetariana advém justamente
desta necessidade de variar a dieta. Para ser praticada com critério, a dieta vegetariana
não pode se ater aos velhos hábitos que contam com uma variedade muito limitada de
alimentos para manter o indivíduo razoavelmente saudável. Seja pela descoberta
culinária ou pela necessidade de adequação da dieta, logo o novo vegetariano percebe a
necessidade de explorar novos ingredientes, novas preparações, novas influências
culinárias. O resultado é uma dieta bastante variada, que permite o consumo de uma gama
maior de nutrientes, Mais do que isso, permite também o consumo de uma gama maior de
substâncias protetoras (antioxidantes, fitoquímicos, fibras), um quesito essencial para
elevar o estado de saúde de razoavelmente saudável a excelente.
Quando
observamos estudos que apontam para os efeitos protetores da dieta vegetariana, é
importante entender que a dieta vegetariana é mais saudável não apenas porque elimina
do cardápio um alimento que é rico em substâncias nocivas ao organismo (gordura
saturada, colesterol, contaminantes), mas também porque permite a inclusão de uma maior
variedade de alimentos. A busca pelos nutrientes essenciais, diferentemente da busca por
um substituto à carne animal, naturalmente leva o indivíduo a ampliar o seu cardápio.
Com isto mudam as características da dieta, ampliando a ingestão dos elementos que
nutrem e ainda dos fatores que protegem. Para se obter os melhores resultados para a
saúde como um todo, o melhor substituo a carne animal está, portanto, na revisão do
hábito alimentar como um todo e a informação é ponto chave para fazer isto com
sucesso.
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