Pirâmide Alimentar
Vegetariana
Dr. George
Guimarães, nutricionista especializado em dietas vegetarianas
www.nutriveg.com.br
Na edição de
aniversário de um ano da Revista dos Vegetarianos você encontra um pôster especial que
traz a imagem de uma pirâmide alimentar. A pirâmide é um instrumento bastante utilizado
para a orientação nutricional, podendo variar em conteúdo de acordo com a proposta.
Esta pirâmide é uma síntese e adaptação feita a partir de diferentes versões de
pirâmides vegetarianas que estão disponíveis na literatura estrangeira.
A base da pirâmide
representa os alimentos que devem ser consumidos em maior quantidade e o topo representa
os que devem ser consumidos em menor quantidade. Uma recomendação para ingerir uma
quantidade menor de determinado alimento não significa necessariamente que este implique
em risco de excesso alimentar. Na maioria das vezes, significa apenas que quantidade
necessária para suprir a necessidade do organismo não é grande (em relação às
outras). As quantidades são expressas de maneira genérica porque a recomendação
específica e individualizada só pode ser feita após levar em consideração o peso,
altura, idade, grau de atividade física e objetivos almejados por cada pessoa.
Idealmente, isso deve ser feito por um profissional de nutrição. No caso específico dos
vegetarianos, por um profissional que tenha bom conhecimento sobre o tema da nutrição
vegetariana.
Para falarmos de maneira
não específica a cada indivíduo, fica a recomendação expressa em quantidades
relativas, ou proporções. Por proporções, entenda a relação que existe entre cada um
dos grupos descritos: mais dos alimentos que estão na base para menos dos alimentos que
estão mais acima. Em outras palavras, qualquer que seja a sua prescrição individual,
ela comumente se apresentará nas proporções indicadas pela forma da pirâmide: mais
cereais, uma quantidade menor de vegetais e frutas e uma quantidade moderada de fontes de
proteína e de cálcio, fazendo ainda restrição ao uso de óleos e outros ingredientes
processados.
Note ainda que estas
quantidades expressas em proporcionalidade não dizem respeito a cada uma das refeições,
mas à totalidade dos alimentos ingeridos durante todo o dia. Portanto, você não precisa
ingerir a proporção correta entre cada grupo a cada refeição. Uma refeição pode ser
mais protéica, desde que a anterior ou a próxima tenha uma proporção maior de
carboidratos e assim por diante, de modo que no final do dia haja sido contemplada a
proporção correta.
Temos na base, onde estão
os cereais e os seus derivados (que deverão ser preferencialmente integrais), a principal
fonte de carboidratos. Além disso, também uma boa dose de fibras e alguns minerais
importantes, como o zinco. Este é o grupo que deve corresponder ao maior volume de
alimentos consumidos durante o dia.
Um nível acima, você
encontra os vegetais e as frutas. Por vegetais, entenda tudo aquilo que não for um grão
(cereal, leguminosa, oleaginosa) ou uma fruta. Portanto, cabem aqui as folhas, as raízes,
os talos, alguns frutos (como o tomate), entre outros. Este é sem dúvida o grupo que
apresenta a maior diversidade para a sua escolha. Quanto mais variadas e coloridas forem
as suas escolhas, mais corretas elas serão.
No grupo das frutas, essas
mais facilmente identificáveis, você escolherá frutas como o abacate ou a banana ou
frutas como a carambola e a melancia (com uma diferença calórica bastante óbvia entre
os dois pares) dependendo dos seus objetivos. As frutas secas também entram neste mesmo
grupo. Da mesma maneira que com os vegetais, as escolhas no grupo das frutas devem variar
ao máximo para que se obtenha o melhor de todas elas. Aliás, a regra da variedade vale
indistintamente para todos os grupos: quanto maior for a variedade de alimentos
consumidos, maior será a variedade de nutrientes a que você terá acesso e maiores
serão as chances de você ter sucesso no planejamento da sua dieta.
Um nível acima
encontramos os alimentos ricos em proteínas e os ricos em cálcio. As principais fontes
de proteína na dieta vegetariana são as leguminosas (feijões, lentilha, ervilha,
grão-de-bico, soja e derivados) e as oleaginosas (castanhas, nozes, amêndoas e sementes
como as do gergelim e do girassol). Apesar de ser um nutriente que merece alguma atenção
na dieta vegetariana, note que o grupo das proteínas não é o que aparece em maior
quantidade (ele não está na base). Isto denuncia o erro no mito de que a dieta
vegetariana possa ser deficiente em proteínas, já que a quantidade de alimentos
necessária para obter proteínas suficientes não é tão difícil de atingir. A dieta
vegetariana somente será deficiente em proteínas se estes alimentos forem consumidos em
quantidades muito pequenas ou com pouca variedade. Este último erro limitaria a ingestão
de aminoácidos essenciais como sempre, e em especial no grupo dos alimentos
protéicos, a variedade é muito importante.
No grupo do cálcio
notamos uma repetição dos outros grupos. Encontramos aqui os vegetais verde-escuros, as
leguminosas, as castanhas, as frutas secas e o melado-de-cana, sendo este último o único
que aparece com exclusividade. O grupo do cálcio apresenta, portanto, poucas novidades.
Por que então destacar um grupo para os alimentos ricos em cálcio, se estes já foram
contemplados em outros grupos? Porque estes alimentos não serão necessariamente os
escolhidos dentre tantos outros que constam dos grupos anteriores. Como as possibilidades
de escolha dentro de cada grupo são muitas, o grupo do cálcio está lá para garantir
que algumas dessas escolhas serão por alimentos ricos em cálcio. Quando você consumir
uma couve, por exemplo, já terá consumido em os grupos: vegetais e cálcio.
Do contrário, você
poderia acabar passando pelo grupo dos vegetais sem consumir um vegetal verde-escuro
sequer, ou pelo grupo das proteínas fazendo a escolha justamente pelos alimentos
processados, como o leite de soja e a proteína vegetal texturizada (PVT) que, após a
industrialização, foram privados do cálcio que o alimento original continha. Note que o
extrato de soja comum é fonte de proteína, mas não de cálcio. No entanto, o extrato de
soja pode ser uma opção para o cálcio, desde que ele tenha sido fortificado com o
nutriente.
A fusão desses dos grupos
de Proteína e Cálcio representa os alimentos ricos em ferro. Em outras palavras, todo
alimento vegetal que é rico em proteína ou em cálcio, é também rico em ferro. Você
já deve ter notado que essa pirâmide é, na verdade, uma pirâmide vegana (sem ovos ou
laticínios). Os laticínios são um exemplo de um alimento rico em cálcio e pobre em
ferro. Ou seja, é um alimento que não favorece a dieta vegetariana da melhor maneira. O
cálcio fornecido pelos laticínios pode muito bem ser fornecido pelos vegetais
representados no grupo do cálcio, com a vantagem de serem também fontes de ferro. Se
você estiver acertando na proteína e no cálcio, não há como errar no ferro (a não
ser que a sua dieta seja rica em laticínios).
No topo da pirâmide
encontramos os alimentos que devem ser evitados ao máximo, como é o caso do sal, das
gorduras processadas ou dos alimentos excessivamente industrializados. Encontramos também
alimentos que podem ser consumidos, mas em pequena quantidade, como é o caso do açúcar
mascavo. Enquanto a margarina deveria ser eliminada por completo por ser fonte de gordura
saturada e gordura trans, o açúcar mascavo tem algum espaço por ser fonte de ferro e
outros minerais. No entanto, ele poderia ser eliminado da dieta sem que fizesse falta do
ponto de vista nutricional. Já o óleo de linhaça deve ser consumido diariamente pelos
vegetarianos, pois fornece boa quantidade do ácido graxo ômega-3, um nutriente essencial
tipicamente pouco presente na dieta vegetariana. Ele está ali no topo porque, apesar de
importante, precisa ser consumido em pequena quantidade: 1 colher de chá por dia é
suficiente para atender à necessidade da maioria dos vegetarianos. O uso de um suplemento
ou alimento fortificado com a vitamina B12 se faz necessário no caso de uma dieta
vegana.
Vemos também na pirâmide
a referência ao consumo de água, que deve acontecer em quantidade que seja suficiente
para saciar a sede, considerando que a ingestão adequada deste líquido vital varia de
acordo com o clima, com a atividade física e em especial com a quantidade de água já
presente nos alimentos. Portanto, a sede é o melhor indicativo da quantidade de água que
precisamos ingerir. Uma exposição ao Sol por 15 minutos em horário apropriado garante a
produção da vitamina D, que é escassa na dieta vegetariana mas pode ser sintetizada
pelo próprio organismo quando há a exposição da pele aos raios solares.
A dieta vegetariana tem
muitos benefícios a oferecer e os poucos riscos que existem podem ser prevenidos fazendo
uso da informação correta. Com o exercício deste instrumento de orientação
nutricional, você estará mais perto de praticar uma dieta vegetariana nutricionalmente
equilibrada. Faça bom uso dele e continue pesquisando e se informando sobre a sua dieta!
Portal vegetariano NATUREBA : www.natureba.com.br .