Acessibilidade das Referências Científicas Sobre Dietas Vegetarianas 

Dr George Guimarães, nutricionista especializado em dietas vegetarianas
www.nutriveg.com.br 

Eu freqüentemente recebo solicitações de estudantes de nutrição ou de outras áreas, como comunicação ou jornalismo, para que lhes sejam indicadas referências de artigos científicos para servir como base para alguma matéria jornalística ou trabalho de faculdade relacionado ao tema das dietas vegetarianas. Nesse mês, eu recebi uma solicitação onde a aluna afirmava já ter procurado exaustivamente por referências científicas e não ter encontrado sequer uma. Apenas a título de esclarecimento, quando me refiro a “artigos científicos” estou me referindo àqueles que foram publicados em revistas médicas-científicas indexadas. Quanto à aluna, ela provavelmente esteve procurando nos lugares mais improváveis ou não havia de fato procurado, buscando um caminho mais curto para o trabalho de ter que buscar por essas fontes. 

Coincidentemente, poucos dias depois, enquanto organizava um armário no consultório, encontrei a cópia impressa do meu primeiro trabalho sobre o assunto, escrito em 1994, meu primeiro ano da faculdade de nutrição. Ao verificar a lista de bibliografia consultada, lembrei-me como era feita a pesquisa por referências bibliográficas nessa época. Pode não parecer tanto tempo assim, mas naquela época a internet não era uma realidade. Para encontrar uma referência bibliográfica era necessário visitar fisicamente a biblioteca da faculdade de medicina, preencher uma solicitação, torcer para que as revistas internacionais mais recentes já tivessem chegado e em seguida xerocopiá-las. Pronto! Agora os textos já podiam ser lidos, mas sem a facilidade de realizar uma busca eletrônica por palavras de interesse. Após alguns dias de procura, todo o material já havia sido adquirido e analisado. 

Apesar dos professores me dizerem que eu não podia fazer os trabalhos do curso sobre o tema da nutrição vegetariana, alegando falta de referências científicas, o empenho nesse árduo processo tratava de prová-los errados, pois eu sempre tinha sucesso em encontrar referências suficientes para poder realizá-los de maneira satisfatória. Hoje é muito mais fácil encontrar e ler os trabalhos científicos. Em muitos casos, a publicação mais recente está disponível online antes mesmo que o trabalho seja publicado em sua forma impressa. Quatorze anos depois, mais do que a acessibilidade, a quantidade de trabalhos publicados é muito maior. 

Felizmente, a produção científica sobre o tema da nutrição vegetariana aumenta a cada ano. O primeiro estudo sobre o tema da nutrição vegetariana foi publicado em 1954 por Mervyn Hardinge, da Universidade de Harvard, intitulado The adequacy of the vegetarian diet. Desde então, a investigação científica acerca da dieta vegetariana já soma milhares de artigos publicados, abrangendo desde a questão da adequação nutricional (deficiências) até a questão do papel protetor das dietas vegetarianas (prevenção de doenças). Apenas para exemplificar, observando as publicações científicas ocorridas apenas nos meses de setembro, outubro e novembro 2008, quero dar destaque a um artigo de cada mês: 

Em um estudo publicado no dia 16 de setembro de 2008 no jornal médico The Lancet Oncology, o Dr. Dean Ornish (conhecido por seus estudos relacionando a dieta vegetariana a um risco reduzido para doenças cardiovasculares) e seus colegas puderam constatar que mudanças de hábitos, o que inclui a adoção de uma dieta vegana, aumentam a habilidade do organismo em combater o envelhecimento, câncer e outras doenças crônicas e degenerativas. Esse estudo recente é apenas um dos muitos estudos que apontam para os benefícios de uma dieta vegana para a saúde dos que a praticam. 

Já um estudo publicado no dia 01 de outubro demonstrou que a adoção de uma dieta vegana é capaz de reduzir o risco para o desenvolvimento de doenças cardiovasculares e melhora os sintomas do diabetes do tipo 2. O estudo, publicado no Jornal da Associação Dietética Americana por Turner-McGrievy, Barnard e colegas, acompanhou durante 22 semanas a 99 adultos com diabetes do tipo 2. Eles foram aleatoriamente divididos em dois grupos: um seguindo uma dieta vegana com pouca gordura e outro seguindo a dieta padrão recomendada pela Associação Americana do Diabetes. O grupo que adotou a dieta vegana durante esse período consumiu fibras, carboidratos complexos e diversos micronutrientes em quantidade superior ao grupo que seguiu a dieta convencionalmente prescrita para pacientes diabéticos. Além de demonstrar redução no risco para doenças cardiovasculares, o grupo seguindo a dieta vegana também obteve melhores resultados no controle do peso corporal e dos níveis de glicose no sangue. 

Em novembro de 2008, foi publicado na revista Cancer Epidemiology Biomarkers and Prevention um estudo comparando os hábitos alimentares de pessoas com câncer de cólon e pessoas sem a doença, todas vivendo na mesma região. Aqueles que consumiam carne vermelha em maior quantidade apontaram para um risco 67% maior de desenvolver a doença. Se considerados alguns fatores genéticos, esse risco chegou a ser 400% maior. 

Essas publicações estão entre as mais bem conceituadas publicações médicas-científicas. Nesse período de dois meses, mais de uma dezena de estudos foram publicados sobre o tema da nutrição vegetariana. Na mesma medida em que é notável a velocidade dessa publicação científica, é intrigante observar a desinformação que existe entre os estudantes e profissionais da área, mesmo diante de uma produção científica relevante tanto em termos quantitativos quanto em termos qualitativos.

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