Vegetais: Mais Pobres, Menos Ricos ou Superiores?
Dr George Guimarães, nutricionista especializado em dietas vegetarianas
www.nutriveg.com.br
A
pergunta pode variar na sua forma, mas é comum escutar o questionamento que sugere que os
produtos animais seriam superiores pelo simples fato (e que nem sempre é fato) de serem
mais concentrados em alguns nutrientes. A sugestão implícita é que se um alimento é
mais rico, não poderia haver um motivo plausível para optar por outro, menos rico. Mais
errada ainda é a presunção de que menos rico é igual a mais
pobre.
Sim,
os produtos cárneos são uma boa fonte de ferro, uma fonte excelente, e os vegetais não
são uma fonte tão boa quanto eles. Mas isso faz dos vegetais uma fonte ruim deste
nutriente? Bem, se o fígado de um animal é uma fonte incrível de ferro, isso faz da
carne uma fonte ruim de ferro? É claro que não. Da mesma maneira, apenas porque um bife
contém mais ferro do que um brócolis, isso não faz do brócolis uma fonte ruim de
ferro. Se formos considerar ainda que o consumo excessivo de alguns nutrientes pode ser
nocivo (como certamente é o caso do ferro), veremos que o brócolis é na verdade uma
fonte superior deste mineral.
E
quanto aos laticínios? Não há um vegetal comumente consumido que seja capaz de fornecer
uma quantidade de cálcio com a mesma facilidade que os laticínios podem fazê-lo. Mas
nem por isso as fontes vegetais deste mineral são descartáveis, simplesmente porque o
leite é uma fonte superior. Devemos admitir que teremos que consumir uma quantidade maior
(em medida de volume) de alimentos vegetais para obtermos a mesma quantidade de cálcio,
mas isso não é necessariamente um problema. Na verdade, muitas pessoas na nossa
sociedade penam para conseguir manterem-se dentro de uma faixa desejável de consumo
alimentar, comumente errando para o excesso.
Os
vegetais em geral ofertam mais nutrientes para cada caloria ingerida, e o resultado é que
precisamos de um volume maior de alimentos para ingerir a mesma quantidade de calorias,
com a vantagem de que com isso ingerimos também uma quantidade maior de nutrientes
desejáveis. Mais volume, menos calorias, mais nutrientes. Por que é então que alguns
(profissionais de saúde inclusive) reagem com aversão quando apresentados com uma
proposta alimentar que pede para consumirmos fontes vegetais de cálcio, proteína e
ferro, que é o mesmo que propor que consumamos uma quantidade maior de alimentos sem que
isto implique em consumirmos uma quantidade maior de calorias? Eu desconheço a resposta a
essa pergunta, mas a minha hipótese é a de que essa reação esteja orientada pela falta
de informação. A segunda hipótese aponta para a mera falta de raciocínio
lógico.
Para
conseguirmos 280 mg de cálcio, por exemplo, podemos optar por ingerir 250 mL de leite de
vaca, o que ofertará 150 calorias, das quais 50% serão derivadas de gorduras (8 gramas).
Vamos estabelecer um valor arbitrário para medir a saciedade. Se o exemplo for aplicado a
um queijo amarelo (variedade que contém mais cálcio), a situação calórica, de
percentual de gordura e de poder de saciedade se agravará (mais calorias e mais gordura
para menos saciedade). Mas se ao contrário, escolhermos obter a mesma quantidade de
cálcio (280 gramas) de um vegetal verde-escuro (como o quiabo por exemplo), teremos que
ingerir um volume maior do alimento (350 gramas o que significa maior saciedade) e
ainda ficamos com um valor de apenas 110 calorias para essa grande porção. A quantidade
de gordura que acompanha todo este cálcio e o grande volume de alimentos é irrisória
(menos do que meio grama), o que deixa uma excelente oportunidade para prepararmos o
vegetal deliciosamente, utilizando temperos compostos por óleos vegetais uma
gordura qualitativamente superior à do leite, sendo que na maioria dos óleos vegetais
predominam as gorduras mono e poliinsaturadas, enquanto que no leite metade das gorduras
são do tipo saturada.
O
exemplo acima, que compara o leite de vaca ao quiabo, é meramente didático. Não
pretendo aqui sugerir que alguém consuma 1 kg de quiabo por dia para poder ingerir a sua
necessidade (por exemplo) de 1 grama de cálcio. O exemplo visa ilustrar o quanto é
possível obter em termos de vantagens quando escolhemos um misto de fontes vegetais de
cálcio (o que inclui também outros vegetais verde-escuros, castanhas, sementes,
feijões, soja, lentilha, ervilha, grão-de-bico e muitas variedades de frutas) ao invés
de uma única fonte rica e de origem animal. Se analisarmos bem, veremos que a opção que
parece à primeira vista menos rica, mostra-se como sendo na prática uma
opção mais rica depois de considerarmos outros fatores.
Além
de consumirmos menos calorias, menos gordura (e menos gordura saturada) e ainda obtermos
uma maior saciedade, o que mais ganhamos quando fazemos a opção por fontes vegetais de
cálcio? Beta-caroteno, clorofila, fibras e licopeno, luteína... são apenas alguns
exemplos de nutrientes e outras substâncias protetoras que recebemos como um
bônus quando escolhemos uma fonte de cálcio que seja diferente do leite de
vaca, ou a secreção mamária de um animal não-humano comumente consumida em nossa
sociedade como alimento para animais humanos que já passaram do período de
amamentação. Vale também notar que a quantidade de colesterol nos vegetais é sempre zero,
enquanto que para os laticínios a situação não é tão favorável.
Se
aplicarmos este exercício para outros alimentos de origem animal e em relação a outros
nutrientes, o resultado será semelhante: ao escolhermos fontes menos concentradas em um
único nutriente, criamos a possibilidade de inserir na dieta outros alimentos que trazem
consigo uma variedade maior de substâncias de interesse para nutrição e proteção do
organismo.
Sim,
a carne é uma excelente fonte de ferro e de proteína e os laticínios são uma excelente
fonte de cálcio. Mas isto não significa que os vegetais não sejam também uma boa fonte
destes nutrientes. Ao pretendermos julgar a superioridade de uma dieta pela sua habilidade
em atender prontamente à necessidade de um ou de outro nutriente especificamente,
corremos um grande risco de errar. Ao analisarmos a situação de maneira cuidadosa e com
uma visão mais abrangente, podemos constatar que a escolha por fontes menos
excelentes significa na verdade escolher a possibilidade de praticar uma dieta mais
saudável, em que ao mesmo tempo que não deixa faltar o que é essencial (proteína,
cálcio, ferro, etc), ainda oferece uma quantidade maior daquilo que é desejável
(substâncias protetoras e saciedade) e uma quantidade menor daquilo que é nocivo quando
consumido em excesso (colesterol e gorduras).
Portal vegetariano NATUREBA : www.natureba.com.br .